A infecção do trato urinário (ITU) se caracteriza pela multiplicação bacteriana em qualquer segmento do trato urinário.
Acomete cerca de 12% de crianças até os 12 anos de idade. Nas crianças até 11 anos de idade, o risco de adquirir ITU foi 3% em meninas e 1% em menino, e 50% delas têm recorrências dentro de um ano. Nos lactentes, é a infecção bacteriana mais comum, principalmente nos primeiros meses de vida. Em lactentes e em especial nos neonatos, é particularmente grave, pelo risco de formação de cicatriz pielonefrÃtica. Dentro do primeiro ano de vida, a ITU febril (38,5ºC) pode corresponder a pielonefrite aguda em 90% dos casos.
A prevalência é nos primeiros anos de vida, com pico de incidência no terceiro ou quarto ano de idade. Incide com maior frequência no sexo feminino (3-4 até 20:1). Em neonatos e lactentes até o sexto mês de vida, poderá incidir preferencialmente em meninos. Os recém-nascidos de mães que apresentaram ITU de repetição durante a gestação têm risco até 4 vezes maior de ter ITU no perÃodo neonatal se comparado aos recém-nascidos normais.
No perÃodo neonatal, a infecção urinária ocorre por via hematogênica; após esse perÃodo, por via ascendente, o agente microbiano provém da flora intestinal e acomete o trato urinário (pielonefrite ou cistite).
infecção de trato urinário
A Escherichia coli é a bactéria responsável por 80% a 90% dos casos de ITU. Klebsiella sp são frequentes em neonatos, Proteus sp e Staphylococcus saprophyticus em adolescentes de ambos os sexos. Enterococos, Pseudomonas, Staphylococcus aureus ou Epidermidis ocorrem em crianças com malformação ou disfunção do trato urinário.
As manifestações clÃnicas variam com a idade. Nos neonatos, os sintomas não são especÃficos: hipotermia/hipertemia, cianose, icterÃcia, convulsões, apatia, letargia, irritabilidade, alterações respiratórias e rejeição alimentar.
Podem desenvolver sepis.
Após a idade neonatal, a febre é frequente. Os sintomas clássicos de dor lombar, disúria e aumento da frequência urinária tornam-se comuns com o aumento da idade. Enurese (fazer xixi na cama) e/ou hematúria macroscópica podem ocorrer em escolares e adolescentes.
Diagnóstico laboratorial
O exame de urina I pode revelar leucocitúria (presença de glóbulos brancos) em aproximadamente 80% dos primeiros surtos de ITU. Leucocitúrias estéreis podem ocorrer na presença de processos infecciosos ou inflamatórios não associados a ITU, como corrimentos, vulvovaginite, balanopostite, glomerulonefrite, litÃase etc. Assim sendo, a coleta de urocultura é imprescindÃvel para confirmação da ITU.
O método preferencial de coleta de urina para urocultura depende da presença ou não do controle esfincteriano. Nas crianças com controle esfincteriano, a coleta é pelo jato médio; nas crianças sem controle esfincteriano, a coleta de urina pode ser realizada por sondagem vesical. A sondagem vesical é um método com baixo risco de contaminação, considerado opção segura e simples, requerendo apenas boa assepsia local.
Crianças com vulvovaginites ou balanopostites não devem proceder a coleta de urina por jato médio, devido a possÃvel contaminação bacteriana da urina durante a coleta.
A coleta de urina de lactentes por saco coletor é método habitualmente empregado nos diversos serviços. Existe risco de alta frequência de resultados falso-positivos até 85%, sendo o resultado válido quando negativo.
Tratamento
Diagnóstico e tratamento precoces da ITU reduzem o risco de formação de cicatrizes renais. A maioria das crianças pode ser tratada com antibióticos orais. Lactentes e crianças gravemente doentes ou apresentando vômitos requerem antibiótico intravenoso até a febre desaparecer, quando o tratamento oral pode substituir o intravenoso.
Medidas gerais
Orientar familiares para a realização de controle clÃnico e laboratorial periódico, pois a frequência de surto único de infecção urinária é baixa (20% a 30% dos casos). Tratar a constipação intestinal de forma efetiva e diagnosticar e tratar os distúrbios miccionais (aumento da frequência miccional, urgência, perda urinária).Tratar vulvovaginites, balanopostites e oxiurÃase. Orientar boa higiene perineal. Aumentar ingestão de água e orientar micções regulares, esvaziar completamente a bexiga.